Rafael Pinto
São Paulo/SP, 1949
Bancário
Entrevista concedida em 2022
Osvaldo Rafael Pinto Filho é bancário e nasceu em São Paulo/SP no dia 28 de abril de 1949. Ele nos lembra que o governo militar negou aos negros até o status de presos políticos. Em 1978, Rafael ajudou na fundação do Movimento Negro Unificado (MNU), criado na época em resposta imediata ao caso de discriminação de quatro garotos num clube paulistano e a prisão, tortura e morte de Robson da Luz, acusado de roubar frutas na feira. Derrubar o autoritarismo, o mito da democracia racial e o racismo estrutural era um dos objetivos das negras e negros organizados durante a Ditadura.
Transcrição:
Você vai ficando adulto, adolescente, as pessoas já não te chamam mais para festa, a vida não foi fácil assim. Você vai namorar, relacionamento… Está bom, está legal para jogar bola. Mas não entra em casa, foi isso que aconteceu. Só que não tem racismo, como é que você vai se situar? Não tem racismo, cara, sob a ditadura foi isso. Não pensem vocês que foi mamão com açúcar pautar o racismo na esquerda. Não foi, não, obviamente.
Porque nós, pretos, sempre tivemos um pé, vivemos no fio da navalha. Vou te contar um caso. Tem um primo meu mais velho. Ele trabalhava ali no mercado, nas docas. Era um cara forte. Quando eu estava nessa fase de 18 anos, o Dirceu foi preso, eles mandavam aqueles… o pessoal chama de papagaio, mandou um bilhete, chegou em casa: “Ó, o Dirceu está preso, está falando para você avisar o advogado dele que ele está preso. Você vai tal dia que tem visitas, tem as visitas das famílias dos terroristas”, eu lembro disso, falando dos terroristas. “Tem visita lá, então eu consigo deixar você ir lá falar com o Dirceu”.
Eu me lembro que era um cubículo que eles estavam presos, tinha umas 30 pessoas, acho. Eu vi esse dia foi a cena da visita dos presos políticos: “Só tem rico aqui, esse cara faz USP”. Eu estou falando da minha mentalidade, do meu conhecimento da época. Como é que esse cara está fazendo engenharia e se meteu nisso?
Você já viu algum negro como preso político ainda hoje? Não tinha essa história. Não que não tenha naquele momento negros que não lutaram nas organizações e que não são presos. Haja vista o caso do Marighella, que o filme está aí hoje, mas um militante do movimento negro, e tal… Houve pressões em função da relação dessa militância negra com as organizações no sentido de se exilar. Então nós temos os exilados negros, Abdias, Thereza Santos, tiveram que sair do país. Mas prendê-los por combater o racismo, não. Sempre tem um subterfúgio.