Adélia Silva Prates
Valparaíso/SP, 1947
Assistente Social
Entrevista concedida em 2022
Adélia Silva Prates é assistente social e nasceu em Valparaíso/SP no dia 20 de janeiro de 1947. Depois de viver por anos em casas onde trabalhou como doméstica, Adélia mudou-se para o bairro do Grajaú, em São Paulo, nos anos 1970. Nessa década começa uma grande união de mulheres na periferia da Zona Sul que culminará com o Movimento do Custo de Vida (MCV), ou Movimento Contra a Carestia. Em 1978, nas escadarias da Catedral da Sé, essas mulheres, antes de ser expulsas pela polícia, entoaram cantigas populares com letras adaptadas contra a fome, como a que Adélia canta aqui.
Transcrição:
Na luta da carestia a gente ia bater panela na cidade, na Praça da Sé. Ia muita gente de todos os bairros. Cada uma levava panela, e as panelas batendo. Era “Peixe Vivo”: “Como pode o peixe viver fora d’água fria? Como pode a criançada estudar sem comer nada? Como poderei viver, como poderei viver dia e noite, noite dia com a panela vazia!”. A gente cantando na Praça da Sé e de olho na polícia, né?
Eu fui morar no Grajaú. A gente começou a fazer uma pesquisa. A gente viu que as crianças não tomavam leite, porque era considerado grande criança de dois anos, criança às vezes muito queimada, porque a mãe trabalhava, deixava eles às vezes sem comer, deitadinho, tinha muita desnutrição, as crianças ficavam mais internadas com desnutrição, de fome, do que de doente.
Teve uma greve geral aqui. A gente entrava nos ônibus e falava “Olha, você está vendo o preço do feijão, o preço do arroz, você está vendo?. A gente é obrigado a ir nesse caminhão da Cobal que vem aqui no BNH vender essas comidas, obrigando a gente a comer soja, obrigando a gente comer isso, nós temos que comer comida de verdade. Vamos comer soja, que é saudável, mas não obrigado”. A gente queria comprar as coisas e não tinha nada nas prateleiras. Vocês não lembram disso, esse caminhão da Cobal. E a gente ia lá comprar as coisas, porque não tinha onde comprar, não tinha o que comer na época da ditadura.