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Dora Henrique da Costa

Caxias/RJ, 1942
Professora Universitária
Entrevista concedida em 2022

Dora Henrique da Costa é professora universitária e nasceu em Duque de Caxias/RJ, no dia 13 de dezembro de 1942. Dora e seu marido, Ailton, foram militantes do Partido Comunista Brasileiro (PCB). Entre 1971 e 1975, o Brasil viveu um surto de meningite que foi subestimado e ocultado pelo governo ditatorial. No meio dessa crise sanitária, Dora foi atingida pela doença, que a acometeu por não ter recebido a vacina adequada.

Transcrição: 

A meningite começou a grassar, a crescer, e a população, pelo menos aquela que via televisão, que lia jornal, porque nem todo mundo, né, sabia disso, esse pessoal começou a ser informado de que existia uma epidemia de meningite. Criança de escola que teve meningite, a escola fechava e você ficava, os teus filhos não podiam ir para a escola, você ficava sabendo que teve um caso de meningite, e assim foi crescendo.  O Jornal Nacional informava que nem a gente hoje vê o negócio de Covid, de tantas pessoas contaminadas, tantos casos, não sei o quê. Quem era que centralizava isso? Era o Ministério da Saúde, era o governo federal. Então saíam os dados que eram permitidos sair. Eu me lembro na época o nosso médico dizer isso: “Os médicos não estão sabendo a quantas anda a questão da meningite”.

Comecei a dar aula e começou a me dar dor de pescoço e eu falava para os alunos assim: “Eu acho que eu tô com torcicolo”, sabe assim? A negação que você mesmo fazia da própria doença. E nesse dia, antes até, anterior, a minha filha tava vendo o Jornal Nacional. Ela falou assim: “Mãe, tem meningite, não sei o sei o quê”. Eu disse: “Desliga essa porcaria, aqui ninguém vai ter meningite não!”.

Eu não podia pisar de tanta dor, aí eu falei: “Não, faz o seguinte, liga para Dona Zulma – era uma amiga minha que morava no mesmo condomínio. Aí ela falou: “Vou ligar para o médico”. Aí eu falei: “Não, não ligue para o médico não, porque tem que clarear um pouco esse quadro, eu tô com uma dor de cabeça”. Quando ele chegou lá, ele só mandou sentar na cama, eu sentei, botar as pernas assim. Ele só fez assim na cabeça, quando ele fez assim, eu dei um berro, porque foi uma dor daqui até lá embaixo. Nessa hora eu falei: “Estou com meningite”. E ele falou: “Doeu tanto assim?”, “Doeu”. 

O que que tinha acontecido? 

Primeiro, que não tinha vacina, não chegava a vacina, a gente não ouvia dizer que ia ter vacina, nem se a meningite podia tomar vacina ou não, se existia vacina. Nada disso era propagado. De repente chegou uma vacina, que era para meningite B. Eu também não sabia na época que tinha meningite A, B e C. Quando chegou essa vacina, a população foi toda correr para tomar a vacina. Eu fiquei em fila para tomar vacina, tomei a vacina. Isso antes. Dei vacina nas minhas filhas achando que tá seguro. Só que eu não tinha tomado a vacina para o tipo de meningite que eu estava tendo. Você tinha todos os fenômenos: o governo escondia que tinha epidemia, as pessoas tinham medo de dizer que teve alguém que teve meningite, porque os outros podiam começar a discriminar, então foi um movimento muito ruim. E depois deixou muito medo.

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